Viciados em VideoJogos

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13-02-2015
Jornal Sol

Há cada vez mais adolescentes e jovens dependentes de videojogos a procurarem tratamento, dizem os especialistas. Vício está muitas vezes ligado a problemas como a depressão e já levou a tentativas de suicídio.

Todas as semanas chega um novo doente às consultas de dependência da Internet do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o único estabelecimento público do pais com atendimento especifico para este problema

Criada dentro do serviço de Psiquiatria há apenas oito meses, esta unidade especial já acompanhou mais de 50 adolescentes e jovens adultos viciados em video-jogos. «A procura das consultas tem estado a aumentar», adianta ao SOL o psiquiatra João Reis, um dos cinco médicos do Núcleo de Utilização Problemática da Internet (NUPI), o primeiro e único serviço público que acompanha doentes dos 15 aos 30 anos com este tipo de dependência.

«Todos os casos que nos têm chegado são de rapazes ou homens dependentes de videojogos» diz o médico, explicando que ainda não apareceu ninguém com problemas de adição às redes sociais, como o Facebook, ou viciado em jogos online como o póquer.

A dependência de videojogos está a tornar-se um fenómeno preocupante por todo o mundo: no início do ano, dois jogadores compulsivos morreram em cibercafés, em Taiwan, ao fim de dias seguidos ao computador. Em Portugal não há registo de casos como eles, mas os especialistas admitem estar preocupados com o aumento de jovens que vivem dependentes da Internet.

Sem dormir nem comer
Muitos dos doentes que chegam ao Hospital de Santa Maria, conta João Reis, também fazem maratonas à frente ao computador ou da consola. Deixam de ir às aulas e ao trabalho, não dormem nem tomam banho e alguns até se esquecem de comer e isolam-se do mundo. Mas, segundo o psiquiatra, quase todos têm outros problemas psíquicos associados à adição à net, como depressão, ansiedade, hiperactividade e défice de atenção: «São 80% dos casos. É muito difícil perceber-se se a Sem dormir nem comer está a ser usada como uma nova forma de manisfestação destas doenças ou se sem os videojogos este comportamento aditivo não se teria maniffestado».

A maioria dos dependentes chega às consultas com os pais, que não conseguem lidar com o tempo que os filhos estão agarrados aos videojogos, com as suas constantes recusas em ir à escola ou à universidade e o isolamento num mundo virtual.

O caso mais dramático que os clínicos desta unidade acompanharam entrou no hospital com a Polícia Era um jovem na casa dos 20 anos que tinha agredido os pais quando lhe foi retirada a internet» em casa, recorda João Reis, explicando que, perante o ataque do filho a família chamou as autoridades que o levaram ao hospital P. chegava a jpgar durante 16 horas por dia. Não estudava nem trabalhava e usava o computador sobretudo à noite, para poder estar na net sem ser interrompido. Isolou-se dos amigos e só convivia online com outros jogadores ou através das redes sociais. Com a família falava apenas o mínimo e indispensável. E foi preciso chegar a uma agressão física para os pais procurarem ajuda médica.

São precisamente reacções de revolta ou de agressão quando os jovens são proibidos de se ligarem a net um dos sinais de alarme para a dependência.

O tratamento deste casos, reconhecem os médicos, é difícil e muitas vezes obriga a um internamento que torne eficaz o corte com a internet e a valorização da pessoa e não do jogador. Alguns ficam internados um mês, outros acabam por precisar de meio ano. É este o tempo que dura, em regra, cada internamento na Clínica Villa Ramadas, em Alcobaça, dedicada a doenças da adição. Cada tratamento custa por mês mais de dois mil euros.

No no passado, foram internados nesta unidade 30 rapazes e raparigas com dependências da net. Tinham entre 15 a 20 anos e dois deles eram espanhóis. «Quando chegam estas pessoas já têm uma série de adições ou problemas associados como a depressão.», explica uma das psicólogas da clínica, Rita Morais, que conduz terapias individuais e de grupo. A especialista garante que o número de doentes tem aumentado e nota que muitos aparecem já em situação limite. «Tivemos um caso de um jovem de 16 anos com dependência da net e uma depressão profunda que já tentara suicidar-se três vezes com medicação», conta a psicóloga, que continua a acompanhar este adolescente numa consulta mensal. «TInha um enorme sofrimento psicológico. Só se sentia bem dentro do jogo e chegava a jogar dois dias seguidos».

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