Vida vazia

Anónimo

Sou adicta ao jogo há mais de 5 anos.

É estranho como as coisas acontecem na nossa vida. Sempre fui uma pessoa equilibrada, lutadora, empenhada, boa filha, boa esposa, boa mãe. A entrada na faixa dos 50 anos, a saída de casa dos meus filhos, a reforma antecipada e a descoberta de uma relação extraconjugal do meu marido, deixaram-me completamente de rastos.

Eu era uma pessoa tão positiva e de bem com a vida e com todos e não conseguia perceber porque é que Deus me estava a fazer passar por esta situação.

Sem saber lidar com a situação e a sentir-me sozinha e desamparada, passei a refugiar-me na internet. Era um mundo novo e todos os dias fazia uma nova descoberta.

Numa das páginas que visitei, havia publicidade a um site de poker. Curiosa, entrei e vi como se jogava. Depois de aprender as regras, inscrevi-me e comecei a jogar. No início perdia quase sempre, até que estudei os passos dos outros jogadores. Informei-me melhor fazendo pesquisa sobre as regras e o certo é que lá começava a animar com as vitórias. O vício era tal que deixei de ter vida, aliás a minha vida era o poker. Tudo o demais ficou para trás, quer a lida da casa, a relação com a família, o gosto por mim…

Só que eu queria cada vez mais e inscrevi-me num site onde as apostas eram a dinheiro. Aí foi o descalabro. Tudo o que tinha investi. Umas vezes ganhava, outras perdia, mas nunca dava para restabelecer o investimento. A minha reforma desaparecia em menos de nada. Comecei a meter-me em créditos, até ter a reforma totalmente comprometida. Mas nada disso me importava, eu estava viciada no jogo e nunca me sentia satisfeita.

Cheguei mesmo a empenhar o meu anel de noivado e a aliança de casamento. Por mais que os meus filhos me tentassem travar era impossível. O meu marido, esse tornou-se ex e saiu de casa. A casa que estava paga e ficou para mim, criei uma hipoteca para pagar dívidas de jogo, até que estive à beira de ficar sem ela.

Aí os meus filhos perceberam a dimensão da situação e levaram-me a conhecer VillaRamadas. Fiquei logo encantada e depois de conversar com a equipa terapêutica, parece que “acordei” e vi a minha realidade. Concordei em fazer o tratamento e depressa percebi que tinha deixado de viver em benefício do jogo.

Foram meses de muita aprendizagem. Terminei o tratamento retomei a minha vida e preenchi-a de actividades, como danças de salão, artes decorativas e tornei-me voluntária numa instituição de apoio a crianças de risco. No fundo, acho que tudo o que passei era inevitável, porque só assim fui abençoada com estas descobertas e foi na clínica que descobri este novo sentido para a vida.

Porque a vida é feita de lições e foi na clínica, em tão pouco tempo, que tive as maiores da minha vida…

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